A curadoria nos deixa possibilidades de ampliar e revisar as perspectivas/possibilidades/potências dentro das produções e suas paisagens. O recorte de obras é desenhado pela característica de pensar os “limites que se entende no espaço entre o céu e a terra” que esse conjunto reúne — inspirado na possibilidade de “estar na paisagem”. Nesse caminho e encontros seremos convidados a olhar para os processos de relação arte | efemeridade | paisagem, estendendo para as correlações e divergências entre produções de luz, terra e céu, assim como no tempo-paisagens. Um convite à abertura; ao olhar para a intensa paisagem contemporânea e a sua possibilidade de ler o mundo como o conhecemos.
Cavalo sem nome
2022 , Benedito Ferreira
Vídeo
Sem título
2008 , Goiandira do Couto
Pintura com areia – Empréstimo do Museu de Arte Contemporânea de Goiás
Casa de Cora Coralina – Casa da Ponte
1989 , Goiandira do Couto
Pintura com areia – Empréstimo do Museu de Arte Contemporânea de Goiás
Este projeto foi contemplado pelo Edital de Artes Visuais – Lei Aldir Blanc
Concurso nº 03/2021 – Secretaria de Cultura – Governo Federal
A curadoria nos deixa possibilidades de ampliar e revisar as perspectivas/possibilidades/potências dentro das produções e suas paisagens. O recorte de obras é desenhado pela característica de pensar os “limites que se entende no espaço entre o céu e a terra” que esse conjunto reúne — inspirado na possibilidade de “estar na paisagem”. Nesse caminho e encontros seremos convidados a olhar para os processos de relação arte | efemeridade | paisagem, estendendo para as correlações e divergências entre produções de luz, terra e céu, assim como no tempo-paisagens. Um convite à abertura; ao olhar para a intensa paisagem contemporânea e a sua possibilidade de ler o mundo como o conhecemos.
Sendo a Luz uma das questões centrais que perpassam as obras deste núcleo, ela emerge no diálogo com a paisagem. Ao se considerar a existência da luz e atentar para os desdobramentos sociais e políticos associados a ela, busca-se tecer, através da paisagem, a dinâmica de explorar a luz e seu processo de sombra, opacidade, fuga e ausência, questões essas, relacionadas ao arcabouço desse processo artístico negociado. Ao exceder os limites dos processos de extrativismo, explora-se a transparência, a poética das alteridades¹ e condição do que pode ser.
No entanto, vários desdobramentos são reconhecidos: desde os limites borrados, internados, a opacidade e o constante reflexo decorrentes da ambiguidade e inconsistência do acordo, até a manifestação material da fuga como passividade em um território estabelecido pela radiação ou pela falta dela.
Na verdade, o que estamos falando aqui, não é apenas sobre como a luz não serve para explorar o espaço e perceber o ambiente da paisagem. Tais artistas recriam em seus trabalhos questões contemporâneas e abrem espaço para uma variedade de perspectivas artísticas. Qual a capacidade da luz e suas dimensões efêmeras, reflexivas e luminosas de registrar e induzir alucinações, cortes, e desafiar ficções e
ruínas, no momento em que as sombras são criadas?
Quando falamos de opacidade e transparência, estamos nos referindo às duas propriedades ópticas fundamentais. Casos extremos referem-se à capacidade de um material de bloquear a luz e se tornar visível, ou para permitir que a luz passe ao mesmo tempo em que revela a imagem que a luz carrega.
Ao alcançarmos a luz negra², como possibilidade para enxergarmos além das coisas que estão visíveis ou já estão ditas, a partir de um sistema que teoricamente informa tudo, quando na verdade informa o que ele deseja, assim, parte de
um processo denso de rearticulação, implicação para tornar-se capaz de conceber resistências e linhas de fuga que sigam deformando as formas do poder no tempo³.
Salissa Rosa nos mostra como um projeto nacionalista invalidou uma identidade e uma história que não foi contada, e como o território do Cerrado foi usado como um marcador de violência colonial e imigração forçada – como forma de aniquilar as experiências, memórias ancestrais e rituais. De maneira que o corpo na sua produção reflete e fratura a transparência, onde reside o poder das ficções, que, ao fazê-la, permite observar a intensidade das violações coloniais, raciais e patriarcais. Manifestando a mais alta expressão dessas violações, que nos domínios das representações impõem, por meio de elementos estruturantes de equações éticas definidoras de aparições e desaparições.
O discurso como uma estrutura que considera verdadeiras apenas certos tipos de sociedade, tanto a sua compreensão histórica quanto a estruturação da percepção de mundo, não nos possibilitam investigar a lógica pela qual as estruturas dominantes organizam o mundo. Como reconstruir uma narrativa em que a ausência dá lugar a fabulações críticas⁴?
Sua investigação, que é imprevisível e complexa na arte que ocorre fora de nossos pensamentos e crenças habituais como humanos, a maioria dos quais é resultado da realidade imposta pelo ocidente. Tal como, fabular seria agir, destruir, atuar, experimentar e criar eventos na intersecção entre o fictício e o histórico. Imaginar a cidade com o corpo-identidade-território e interpelar o arquivo seria caminhar pelas ruínas da memória? ou mesmo, “é possível construir uma história a partir do ‘locus do impossível’ ou ressuscitar
vidas das ruínas?”⁵
Assim como Sallisa, Cássia, também desorganiza e busca fugir dessa lógica que funda um corpo em uma estrutura dicotômica, linear e progressiva. Um corpo que não se paralisa, o corpo consciente tanto do discurso quanto da prática que quer confrontá-lo, aterroriza-lo e mantê-lo num determinado lugar. Trata-se de apontar não só para os espaços públicos e sim, mais especificamente no que concerne a este recorte, para os espaços controlados. Num esforço para deslocar o excepcionalismo humano colonial no mundo da arte. A máscara como um meio de alcançar um estado além da racionalidade e dos mundos além dos humanos. E que se contrapõe a essa ideia do absoluto e do universal e a esta lógica de que existe o mal, que existe o bem que existe a verdade, quer dizer, toda a composição do tido como selvagem.
Se pensarmos na luz como possibilidade ou contra seu limite, que registra, transpassa e fragmenta lápides e ruínas cinzentas – num perceptível movimento de encontro com a cidade – como luz que muda a paisagem da cidade? Assim, um dos modos de observação entre a escuridão que justamente não estará numa sequência progressiva e expansiva, mas justamente ao contrário, quer dizer, ao longo do caminho você vai numa direção ou em outra com a luz e sombra que o tempo todo está ali, barricando.
O conjunto de obras constroem barricadas a esta lógica de paisagem que tanto nos sufoca, descobrindo pela luz outros pensares possíveis, esses outros modos de percepção e concepção de imagens pelas beiras, de como, o tempo linear também nos atravessa. Embora também não seja fácil de escapar, entendemos que em alguma medida a negociação com a paisagem também esteja presente ao longo deste trabalhos, que as tornam produções importantes para o território goiano ao longo dos últimos anos, pois existe um movimento incessante de experimentar outras possibilidades para este território, outros modos de temporalidade, paisagens e fugas para habitar num só movimento e ao mesmo tempo — criar barricadas a contraluz das lógicas do modo como elas têm capturando nossa vida dentro da história deste país.
A curadoria nos deixa possibilidades de ampliar e revisar as perspectivas/possibilidades/potências dentro das produções e suas paisagens. O recorte de obras é desenhado pela característica de pensar os “limites que se entende no espaço entre o céu e a terra” que esse conjunto reúne — inspirado na possibilidade de “estar na paisagem”. Nesse caminho e encontros seremos convidados a olhar para os processos de relação arte | efemeridade | paisagem, estendendo para as correlações e divergências entre produções de luz, terra e céu, assim como no tempo-paisagens. Um convite à abertura; ao olhar para a intensa paisagem contemporânea e a sua possibilidade de ler o mundo como o conhecemos.
Sendo a Luz uma das questões centrais que perpassam as obras deste núcleo, ela emerge no diálogo com a paisagem. Ao se considerar a existência da luz e atentar para os desdobramentos sociais e políticos associados a ela, busca-se tecer, através da paisagem, a dinâmica de explorar a luz e seu processo de sombra, opacidade, fuga e ausência, questões essas, relacionadas ao arcabouço desse processo artístico negociado. Ao exceder os limites dos processos de extrativismo, explora-se a transparência, a poética das alteridades¹ e condição do que pode ser.
No entanto, vários desdobramentos são reconhecidos: desde os limites borrados, internados, a opacidade e o constante reflexo decorrentes da ambiguidade e inconsistência do acordo, até a manifestação material da fuga como passividade em um território estabelecido pela radiação ou pela falta dela.
Quando falamos de opacidade e transparência, estamos nos referindo às duas propriedades ópticas fundamentais. Casos extremos referem-se à capacidade de um material de bloquear a luz e se tornar visível, ou para permitir que a luz passe ao mesmo tempo em que revela a imagem que a luz carrega.
Ao alcançarmos a luz negra², como possibilidade para enxergarmos além das coisas que estão visíveis ou já estão ditas, a partir de um sistema que teoricamente informa tudo, quando na verdade informa o que ele deseja, assim, parte de
um processo denso de rearticulação, implicação para tornar-se capaz de conceber resistências e linhas de fuga que sigam deformando as formas do poder no tempo³.
Salissa Rosa nos mostra como um projeto nacionalista invalidou uma identidade e uma história que não foi contada, e como o território do Cerrado foi usado como um marcador de violência colonial e imigração forçada – como forma de aniquilar as experiências, memórias ancestrais e rituais. De maneira que o corpo na sua produção reflete e fratura a transparência, onde reside o poder das ficções, que, ao fazê-la, permite observar a intensidade das violações coloniais, raciais e patriarcais. (Não sei se é apenas questão de estilo, mas aqui, não caberia ponto, mas vírgula, e a palavra Manifestando, com “m” minúsculo) manifestando a mais alta expressão dessas violações, que nos domínios das representações impõem, por meio de elementos estruturantes de equações éticas definidoras de aparições e desaparições.
O discurso como uma estrutura que considera verdadeiros(as)? apenas certos tipos de sociedade, (verificar, pois, sociedade é substantivo feminino, não seria verdadeiras, já que refere a sociedade?) tanto a sua compreensão histórica quanto a estruturação da percepção de mundo, não nos possibilitam investigar a lógica pela qual as estruturas dominantes organizam o mundo. Como reconstruir uma narrativa em que a ausência dá lugar a fabulações críticas⁴?
Sua investigação, que é imprevisível e complexa na arte que ocorre fora de nossos pensamentos e crenças habituais como humanos, a maioria dos quais é resultado da realidade imposta pelo ocidente. Tal como, fabular seria agir, destruir, atuar, experimentar e criar eventos na intersecção entre o fictício e o histórico. Imaginar a cidade com o corpo-identidade-território e interpelar o arquivo seria caminhar pelas ruínas da memória? ou mesmo, “é possível construir uma história a partir do ‘locus do impossível’ ou ressuscitar vidas das ruínas?”⁵
Assim como Sallisa, Cássia, também desorganiza e busca fugir dessa lógica que funda um corpo em uma estrutura dicotômica, linear e progressiva. Um corpo que não se paralisa, o corpo consciente tanto do discurso quanto da prática que quer confrontá-lo, aterroriza-lo e mantê-lo num determinado lugar. Trata-se de apontar não só para os espaços públicos e sim, mais especificamente no que concerne a este recorte, para os espaços controlados. Num esforço para deslocar o excepcionalismo humano colonial no mundo da arte. A máscara como um meio de alcançar um estado além da racionalidade e dos mundos além dos humanos. E que se contrapõe a essa ideia do absoluto e do universal e a esta lógica de que existe o mal, que existe o bem que existe a verdade, quer dizer, toda a composição do tido como selvagem.
Se pensarmos na luz como possibilidade ou contra seu limite, que registra, transpassa e fragmenta lápides e ruínas cinzentas – num perceptível movimento de encontro com a cidade – como luz que muda a paisagem da cidade? Assim, um dos modos de observação entre a escuridão que justamente não estará numa sequência progressiva e expansiva, mas justamente ao contrário, quer dizer, ao longo do caminho você vai numa direção ou em outra com a luz e sombra que o tempo todo está ali, barricando.
O conjunto de obras constroem barricadas a esta lógica de paisagem que tanto nos sufoca, descobrindo pela luz outros pensares possíveis, esses outros modos de percepção e concepção de imagens pelas beiras, de como, o tempo linear também nos atravessa. Embora também não seja fácil de escapar, entendemos que em alguma medida a negociação com a paisagem também esteja presente ao longo deste trabalhos, que as tornam produções importantes para o território goiano ao longo dos últimos anos, pois existe um movimento incessante de experimentar outras possibilidades para este território, outros modos de temporalidade, paisagens e fugas para habitar num só movimento e ao mesmo tempo — criar barricadas a contraluz das lógicas do modo como elas têm capturando nossa vida dentro da história deste país.
¹ Édouard Glissant (2011), Poética da Relação, Porto, Sextante Editora.
² Denise Ferreira da Silva em: A dívida impagável, de Denise Ferreira da Silva, organizada pela Oficina de Imaginação Política com o apoio da Casa do Povo, SP, 2019
³ Jota Mombaça em: Não vão nos matar agora. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
⁴ HARTMAN, Saidiya. Venus in two acts. Small Axe, n. 26, 2008, p. 1-14
⁵ HARTMAN, Saidiya. Venus in two acts. Small Axe, n. 26, 2008, p. 1-14 – Ver também Siron Franco Monumento a Nações Indígenas – Imagens de arquivo – 1992.